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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O ALIMENTO DAS BRUXAS

O que comiam as bruxas? Que bizarros pratos preparavam as assim chamadas “seguidoras de Satã” quando se encontravam no Sabá, seus festivais noturnos?
Estas perguntas se fizeram os inquisidores e os demonologistas renascentistas, empenhados em conhecer cada aspecto da prática da bruxaria.



A necessidade de definir até mesmo os detalhes mais insignificantes, aparentemente, surgiu a partir da necessidade de reconstruir meticulosamente o que foi considerado, juntamente com Turcos e Hebreus, a ameaça mais poderosa para a religião cristã; uma ameaça, é bem dizê-lo, nascida em um período de extrema insegurança social devido às guerras, epidemias, conflitos religiosos, profundas mudanças econômicas.
Por esta razão transformaram as bruxas na época do Renascimento em bode expiatório dos males que a justiça e a teologia podiam explicar somente recorrendo aos preconceitos antigos do milênio. Outrossim, não foi Eva que cedeu às lisonjas da serpente e convenceu a Adão a se alimentar do fruto proibido? Desde que foi a mulher a gerar o pecado original, as descendentes de Eva eram as principais culpadas e as maiores vítimas da caça às bruxas.

Sob a tortura, as mulheres acusadas de bruxaria admitiam toda sorte de crimes, sugeridos pelo inquisidor ou de sua própria fantasia: voo noturno, malefícios incríveis, magia sobre o tempo, sobre pessoas e sobre coisas, mesmo relacionamentos sexuais com o diabo.

Durante o interrogatório, as pessoas acusadas de participaram do Sabá descreviam cada aspecto deste banquete: quando foi, quem participou, quem levou o alimento e o que levou. Todas as informações contidas nos relatórios dos processos e nos tratados antibruxaria escritos entre o final de 1400 e o início de 1700. Analisando estes documentos, se descobre que a cozinha das bruxas era muito diversa daquela contidas em histórias populares e nas obras de arte, que descrevem poções preparadas com serpentes, sapos, insetos e outras coisas asquerosas indescritíveis. Se chegou ao ponto de acusar as bruxas de se alimentarem de carne humana; e talvez algo similar possa ter acontecido, em períodos de grave carestia. De fato, os últimos episódios de canibalismo na Europa são documentados nos anos de 1930 na URSS, quando houve uma das mais espantosas crises alimentares que a história recente se recorda.




 
Mas retornemos aos banquetes das bruxas. Tais documentos mostram que os festins, vale dizer os Sabás, aconteciam na maioria de vezes em particular correspondência às festividades, como 1° de Maio, Dia de Todos os Santos, da Candelária, da Páscoa, do Natal ou o Solstício de Verão. De acordo com as estações, o Sabá era realizado em um lugar fechado, perto de algum celeiro, ou a céu aberto, em localidades remotas como Passo del Tonale, o noce di Benevento, do Puy de Dome na Alvernia, o monte Brocken na Alemanha, o Blokula na Suécia, ou do templo pagão em ruínas mais próximo.

O alimento era levado às vezes por uma bruxa, às vezes pelo diabo em pessoa, contudo mais frequentemente era preparado coletivamente, matando um animal no local. Em um tratado inglês antibruxaria escrito no final de 1600, se diz que a bruxa “senta-se à mesa, onde não falte carnes delicadas a fim satisfazer a seu apetite; todas as delícias são trazidas em um piscar de olhos por espíritos que servem a assembleia”.
No célebre processo de 1692 contra as bruxas de Salem, na Nova Inglaterra, uma testemunha forneceu esta descrição: “quais coisas comiam na convenção. Responde [a acusada] que levou o pão e o queijo no bolso, e que antes da convenção se encontrou em companhia de Andover. Sentaram sob uma árvore e comeram, e matou sua sede bebendo em um córrego”.

Tal similar refeição faria rir as bruxas de Lancashire e de Somerset, na Inglaterra. Durante os processos contra elas, ocorridos respectivamente em 1613 e 1664, as testemunhas afirmaram que nas convenções se comia o pão com toicinho e carnes de boi e de carneiro assadas, bebiam ótimo vinho e boa cerveja e não faltavam doces estranhos e o acquavite.



Mesmo os diabos participavam pessoalmente da festa, porque os espíritos, era opinião comum, quando tomam aparência humana comem e bebem realmente, como também dançam, cantam, tocam instrumentos musicais e mesmo fazem amor.


Quase sempre, nos países Anglo-Saxônicos, as bruxas exaltavam a bondade dos alimentos preparados para o Sabá. Em vez disso, as bruxas do continente, embora seu menu fosse quase idêntico ao de suas colegas inglesas, se lamentavam frequentemente do sabor dos víveres: eram insípidos e frios, ou de aspecto convidativo, mas de sabor desagradável, quanto ao vinho e a cerveja eram geralmente ácidos. Além disso diziam que, embora comessem muitíssimo, assim que retornavam à casa eram atacadas por uma fome enorme, como se não houvessem comido de tudo.

Na Suécia, durante os Sabás era costume tomar sopa de repolhos e toicinho, pão de aveia coberto de manteiga, e finalmente leite e queijo. Também aqui, durante os processos, as bruxas confessaram que o sabor dos alimentos era às vezes muito bom, e de outras era péssimo.

Além do aspecto puramente social, no decorrer do Sabá se executavam danças acompanhadas de musicas festivas, mas em muitos casos resultava que se celebrava rituais obscenos o que não cabe aqui. Entretanto, rituais diabólicos ou festividades rurais que fossem, os juizes não estavam dispostos a atenuar, especialmente no período em que a caça às bruxas foi mais intensa. Entre o final de 1500 e a metade de 1600, os católicos e os protestantes, os religiosos e os laicos estavam determinados a combater a bruxaria e, prestando mais atenção à forma que ao conteúdo, cometeram o mais trágico dos erros de julgamento.

Relendo hoje o relatório do processo, nos perguntamos quantas vezes os inquisidores confundiram um piquenique banal ou uma festividade de vilarejo com um Sabá. E quantas daquelas manifestações folclóricas que ainda hoje alegram os finais de semana ou os feriados no campo, desapareceram com um golpe de esponja nas mãos dos juízes das cidades um tanto míopes, que nas máscaras do carnavalescos viram verdadeiros demônios e nas danças populares viram orgias satânicas?

Não são perguntas inúteis, se se acreditar que a história humana não segue sempre a estrada do progresso e da tolerância, e que frequentemente também a justiça sucumbe aos modismos culturais.

GiordanoBerti – 2007©
©Tradução de Lilia Palmeira – 2008/2012
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